segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Colchão de liquidez, semiótica, a agonia e o êxtase


Assistia a pouco ao monumental filme “Agonia e Êxtase” de 1965, narrativa magistral da relação conturbada entre Michelangelo e o Papa Júlio II deflagrada durante a pintura da Capela Sistina, o artista que a princípio recusa a missão se entrega com vigor até o esgotamento físico e emocional na execução daquela que é uma das maiores obras primas do mundo, ato de amor a arte e devoção ao espírito livre que não se rende ao poder imposto a força, travando uma batalha entre temperamento e liberdade artística. Charlton Heston e Rex Harrison nos brindam com interpretações marcantes, mas na verdade ancoro meu pensamento no cinema me valendo de sua inspiração e passo a percorrer os labirintos em que a mente vaga em meio a tantos assuntos palpitantes, nova crise econômica global provoca previsões alarmistas de norte a sul, focos de insurreição por todo o lado, bombardeios na Faixa de Gaza, morte, respira-se a futura Copa do Mundo no Brasil onde o Governo Dilma cambaleia diante de escândalos que estão se transformando em epidemia, quando corrupção, tráfico de influencia e enriquecimento ilícito são os adjetivos do poder.
Também aprendi recentemente que possuímos um colchão de liquidez que até então nem sabia de sua existência e utilidade, parei e fui ver do que se tratava, pois então descobri que nossa pujante economia aconchega-se numa confortável reserva cambial a fim de garantir tranquilidade nos dias bicudos de intempéries promovidos pelo ataque do capital especulativo que age voraz sobre os sistemas financeiros mundo a fora. Nossa gorda reserva de pelo menos 1 trilhão de Reais funciona como um cordão de isolamento aos efeitos de um agravamento maior da crise internacional, garantir as exportações a abalança comercial interna estável em meio ao consumismo desenfreado é a missão de nossos técnicos e políticos na área econômica, cuidando para não cair no “empoçamento de liquidez” (situação em que o dinheiro fica parado nos bancos, sem circular na economia).
Não pensem que “pirei” tentando entender a mecânica do mercado internacional, afirmo que “ainda” não, minha tentativa é a de demonstrar que na realidade todos nós sustentamos esta ficção de títulos do tesouro, dinheiro compulsório ou dólares de reserva que apesar das cifras astronômicas são cobertor bem curto ao trabalhador que levanta na madrugada, vai e volta enlatado ao seu emprego, quando o tem, para garantir o “sal árido”, que não lhe permite mais do que simplesmente continuar respirando,
Por fim me dirijo à Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais"), que se detém ao estudo do significado ou representação de determinadas manifestações, na natureza, na cultura, conceito ou idéia, deleita-se em todo o processo humano cientificamente, servindo aos eleitos do alto da sapiência acadêmica, sinceramente não quero passar a idéia de um sujeito rancoroso, mas, por favor, prestem atenção aos sinais, me sinto agredido com todo este formulismo, são tantas óticas, tantas elaborações e seus maniqueísmos, daí relacionar colchão de liquidez com a Semiótica minha agonia e o êxtase extraído da arte onde os sonhos não envelhecem, onde de tudo se faz canção até repousamos o coração na curva de um rio, quando não há nada que se possa fazer melhor que sonhar sabendo que o pior já passou e podemos de tudo querer, e sem dúvida lá viver é melhor...

Texto: André Soares
Imagem: Detalhe da mão de David de Michelangelo

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Caroço de abacate


Dia frio,

Café quente,

Meu coração por ti bate,

Como caroço de abacate.

Poema: Giovanni Nesi
Foto de Brigitte Bardot

O assassinato do guarda chuva




A chuva parou,
A sopa está fria,
A garrafa vazia,
A sombra da noite passada invade a sala,
Toda a cena tem um colorido,
Como um filme de Truffaut.
O dia violentou a noite,
E o vento assassinou o guarda chuva
Agora permanece torto,
Morto na porta da casa.
A água está fervendo,
Neste dia pálido,
O silêncio é borrado pelo canto do tucano,
Que precede o grito de espanto da chaleira,
E o vômito do bule,
Negro de café.

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem do Filme - Os Incompreedidos - François Truffaut

Lê-me


Eu queria um poema perfeito
com o teu nome,
o meu,
e a nossa miséria.

Poema: Annie (Botânica de Annie)
Blog:
http://tenuebolbo.blogspot.com/
Xilo: Oswaldo Goeldi

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Pajador libertário


Como pajador libertário
Escrevo sobre o meu cotidiano
Em prosa
Poesia de não ficção
Na contramão da historia
Saboto em versos a corrupção
Desnudo a miséria de uma nação

Caso o meu verso
Não cause o inverso da situação
Não me preocupo!
Pois os sonhos de liberdade
Brotam dos campos férteis da imaginação

Viva a revolução!

Para : Simões Lopes Neto, Caetano Braun, Noel Guarany
Poema: Rodrigo Vargas Souza

Imagem: Os mineiros de Butiá de Danúbio Gonçalves

A bolha, a intolerância e a queda de cabelo



Qual é relação inteligível entre a bolha econômica, a intolerância étnica com a queda de cabelo? Por mais absurdo que possa parecer a resposta é simples, a mais complexa e completa cumplicidade, senão vejamos, novamente aproxima-se nova crise na economia global, o limite da dívida pública americana é fator de enorme preocupação, e no Brasil que segundo técnicos do Financial Times apresenta um diagnóstico preocupante por apresentar uma economia inflada como uma bolha prestes a explodir, alto consumo interno ancorado em taxas de juros exorbitantes sofrendo ataque fulminante do capital especulativo produz um quadro de extrema insegurança, a despeito de nossos governantes aparentarem tranqüilidade.
O reflexo deste quadro alarmista é a explosão de focos violentos em todas as partes do planeta, Londres mal dorme já há três dias os bairros de imigrantes mergulharam na revolta, mas não fica restrito aos imigrantes, as distorções são mais profundas, no Brasil pré Copa/Olimpíada a situação não é diferente, ouvimos que aqui apesar da intolerância local, recebemos imigrantes oriundos da Ásia, África e América andina, que no Século XXI ainda encontramos os arautos da eugenia, muitos crimes são cometidos em nome da superioridade racial e da perspectiva de manipular toda a complexidade do gênero humano.
A queda de cabelo é a reação instantânea de quem se dá conta de toda esta contradição presente em nossa vida hoje, alguns são mais contundentes e chegam a arrancar o próprio cabelo, sim é agora, neste momento que os episódios ocorrem, no oriente, no norte, no ocidente, no sul, no extremo, no golfo, na península, no fundo do poço, a palavra da hora é “crise” e em conseqüência protestos globais.
Ah! Mas que sujeito rancoroso me transformei, não enxergo o belo, não consigo apenas seguir os rumos da maioria de nós que constituem o seu planejamento para a vida em “construir” um patrimônio, em vencer, em tornar-se independente, senhores e senhoras por mais ensandecido que meu pensamento possa lhes parecer, acredito que se agirmos na defesa da humanidade e entendermos que a responsabilidade também é nossa com o futuro só me resta murmurar é preciso acordar...

Texto: André Soares

Fotografia: Rodrigo Vargas Souza